domingo, 26 de novembro de 2006

Crítica e maledicência

Em Portugal valoriza-se pouco a crítica. Este é o meu ponto de partida.

A crítica é pouco valorizada em Portugal e muitas vezes confundida com a maledicência. Se fizermos uma pesquisa básica num dicionário on-line encontramos a censura ou a apreciação desfavorável. Mas esses são apenas os aspectos negativos da crítica. O que a mesma tem de importante (análise, estudo ou investigação do mérito ou de factos) é muitas vezes desvalorizado. Parte-se, demasiadas vezes, para as questões pessoais. O apontar dos defeitos é interpretado como um ataque particular.


A desvalorização da crítica mostra muito do atraso no desenvolvimento cultural de uma sociedade. Portugal é nesse aspecto um paradigma onde tudo se fulaniza, tudo é pessoal. Daí ao insulto é um pequeno passo, mas as dúvidas, as questões, os problemas ficam quase sempre sem resposta. Todos temos opinião sobre tudo e somos rápidos nos juízos, a reflexão é um exercício mais solitário e difícil e num mundo mediatizado onde a velocidade conta muito perdemos a noção desses tempos de pausa. Mesmo aqui já incorremos nesse erro substituindo os argumentos pela adjectivação fácil. Não retiro nada do que disse mas compreendo que por tal, também, seja criticado.

Um dos locais onde a crítica se confunde mais com a maledicência é as caixas de comentários dos blogues. Alguns parecem verdadeiros profissionais, presentes em todo o lado, comentando tudo, muito por causa disso é que retirei os meus.

Outro argumento muito utilizado face à crítica é a exigência de alternativas. Também aqui existe uma confusão entre análise e acção. Estes são dois planos totalmente distintos e não têm necessariamente de se cruzar. Por se estudar ou analisar um determinado facto não implica que se seja obrigado a propor algo novo, faz-se apenas (e isso quando bem feito pode dar muito trabalho) a crítica do mesmo. A hiper valorização da acção face à reflexão é outro dos sinais de atraso que Portugal vai demonstrando.

Lamentamos apenas que o nível não se eleve e a mediania não esteja acima do nível actual. Sabemos que não existem mundos perfeitos e que existirá sempre a mediocridade. Ela é até necessária para manter um certo nível de tensão, o que já não é preciso é uma atitude corrente de asfixia de qualquer crítica positiva.

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