Agora é D.Afonso Henriques
A notícia traz a possibilidade de D. Afonso Henriques ser originário de Viseu. Depois de Colombo, esta é uma nova polémica alimentada artificialmente para retirar dividendos dúbios. Senão atente-se na notícia.
Começa por uma elaboração do presidente da câmara, numa clara tentativa de dar cobertura política a um tema que não é. Inteligentemente o presidente diz que só reivindicará essa hipótese se “um número alargado de académicos for por esse caminho”. A tese de Viseu, segundo a notícia, surge após o levantamento da hipótese de Coimbra no Dicionário Enciclopédico da História de Portugal (ed. Alfa e Selecções do Reader’s Digest). Esta nova investida surge a propósito da reedição de uma obscura obra de 1993, escrita por Almeida Fernandes. Este autor define bem o seu recorte técnico quando a propósito da investigação que fez afirma: "Eu não mamo na História: amo-a".
Ao que parece quem escreve de forma tão desabrida verá, a título póstumo, a sua obra reeditada por uma fundação de Viseu depois de ter sido encomendada por uma instituição de Guimarães. É a história por encomenda em todo o seu esplendor.
Para concluir o presidente da Câmara Municipal de Viseu faz uma vaga citação de José Mattoso para corroborar a hipótese Viseu e lembrar que os historiadores, por vezes, revêem as suas posições.
De tudo isto há que salientar a precariedade das fontes apresentadas e a ligeireza dos estudos. Ressalta sim a hipótese de haver um aproveitamento político de um tema totalmente irrelevante para o conhecimento da historiografia nacional e medieval. Este tipo de polémicas ajuda a mostrar, apenas, a fragilidade da comunidade científica em Portugal e como a História é e será um factor de argumentação do discurso político, de propaganda e de legitimação. Por tudo isto estas cortinas de fumo são perigosas porque nunca sabemos onde acabam.